quarta-feira, 26 de junho de 2013

Aos golpistas, o amargo sabor do anonimato


por Rodrigo Priesnitz

Quando comecei a me entender por gente, lá pelos idos de 1984, o país inteiro embarcava em uma efervescente luta civil pela abertura democrática, por direitos civis e o retorno de eleições diretas para Presidente da República. Na verdade, 84 foi o auge de um movimento que iniciou na década de 70 e que explodiu naquele ano. Foi um momento ímpar de nossa breve história de nação independente, republicana e democrática.
Já se passaram quase trinta anos desde aquela campanha popular. Parece muito tempo e
para mim que ainda não cheguei aos quarenta, realmente é. No entanto se comparado em relação à história de um país, significa quase nada. Que dizer da nossa democracia? Tão jovem quanto as poucas décadas que nos separam daqueles agitados anos.
Existem algumas exigências a serem feitas para que se afirme que um período seja realmente democrático e aqui não há intenção de descrever uma democracia e sim algumas qualidades que não a permitam existir. O voto dos não alfabetizados, proibido por decreto em 1881, só veio a ser admitido novamente, em caráter facultativo, a partir de 1985. Passaram-se 104 anos para que o Estado, e parte da sociedade entendessem que apenas restringir o direito ao voto não seria suficiente para extinguir o analfabetismo. 
As mulheres só passaram a ter direito ao voto, por decreto do Presidente Getúlio Vargas, a partir de 24 de fevereiro de 1932, ainda com restrições, mas fruto de longa luta. Não seria loucura e nem exagero imaginar a grande resistência e oposição à adoção desta medida por Getúlio Vargas. Os "coxinhas" da época devem ter gritado, enraivecidos: “É uma medida eleitoreira! O Presidente Getúlio Vargas quer, com essa vil atitude, ferir a honra das famílias e conquistar o voto inconsciente das Senhoras, incapacitadas a tamanha responsabilidade tão bem desempenhada pelos homens de nossa democrática nação brasileira!”  Alguém se arriscaria a dizer que houve democracia de fato, antes de 24 de fevereiro de 1932?
Pois apenas cinco anos se passaram até que em 1937, o Presidente Getúlio Vargas decretasse o Estado Novo e acabasse com os partidos políticos e com as eleições livres, atribuindo-se poderes de ditador. A democracia viria a sorrir aos brasileiros apenas em 1945, com a deposição do governo de Getúlio e convocação de eleições gerais e assembléia constituinte com a participação de todos os partidos, inclusive o Partido Comunista, fundado em 1922 e na clandestinidade desde então. Ameaçada, a nossa jovem não resistiu dois anos, pois o registro do Partido Comunista foi caçado, assim como todos os mandatos de seus filiados, entre eles, Carlos Marighela, Luis Carlos Prestes, Jorge Amado e outros. O PC havia conquistado quase 10% dos votos nas eleições livres de 1945.
As instituições seguiram ameaçadas até em 1954, quando após forte campanha
oposicionista de Carlos Lacerda, jornalista e radialista que propagandeava jamais ter havido na república brasileira governo mais corrupto do que o de Getúlio Vargas e que a política brasileira não passava de um “Mar de Lama”, o Presidente deixou a vida para entrar na história e matou-se com um tiro no peito, em seu quarto, no Palácio do Catete, sede do Governo Federal. Getúlio havia sido eleito com o pé nas costas, como poderia ter afirmado algum comentarista político da época.
Em 1964 todos já sabem, novas crises políticas que desestabilizaram as instituições e nos jogaram a todos no mais triste e obscuro período de nossa breve história. Uma ditadura civil-militar que permaneceu no poder por longos 21 anos. Sem objetivo de se divagar sobre as atrocidades cometidas pelos senhores que regeram aquele período de nossas vidas e nem mesmo de explicar aquele golpe, registra-se apenas o fato de que nem todos os vilões eram militares e que os braços daquela ditadura se estenderam por todos os rincões deste país, tendo influenciado diretamente na vida de todos os cidadãos e cidadãs.
Ao analisar brevemente o período que se passou até 1984, constatamos apenas isso, que nossa democracia não é nada mais do que uma jovem que ainda não chegou aos trinta anos e que busca estabilizar sua existência aos trancos e barrancos. Certeza? Apenas que aos ditadores não restou lugar de destaque na história, a não ser pelo batismo de algumas escolas e avenidas. Talvez pela covardia de alguns ou pela preguiça de outros, ainda permanecem ofendendo o legado daqueles que pagaram com a vida para que gozássemos da liberdade que temos hoje. Mas aos lacaios, aos traidores, a estes não se reservou sequer uma pinguela. Quantos sabem quem foi Lacerda?


*Rodrigo Priesnitz é Tecnólogo em Gestão Pública, militante e filiado ao Partido dos Trabalhadores e experimenta a atividade de blogueiro.


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