terça-feira, 4 de junho de 2013

Saúde Pública - “Ninguém me explicou na escola, ninguém vai me responder”

Por Rodrigo Priesnitz
Quem faz um seguro para o carro, de boa fé, espera jamais precisar utilizá-lo. O que nos faz acreditar, então, que a garantia para uma boa saúde estaria na cura e não na prevenção da doença? Pois é a comparação que, por mais óbvia e superficial, cabe muito bem para iniciar uma discussão sobre saúde pública.
Criado há mais de 20 anos o SUS é o Plano de Saúde dos sonhos de qualquer cidadão ou sociedade. Tem caráter universal e é gratuito. Onde mais se oferece um serviço como este? Sinceramente, não sei. Mas o que sei é que apesar disso e de podermos contar com este sistema há tantos anos, nós brasileiros, pouco sabemos a respeito.
É uma situação que deveria ser alvo de maiores estudos. Senão vejamos, quem já assinou um contrato para aquisição de um Plano de Saúde Privado sabe que no mesmo momento nos é oferecido “gratuitamente” um Manual Completo do Usuário, que já traz inclusas as entrelinhas e as letras miúdas. E em que momento de nossa vida o SUS nos oferece este Manual? O problema está aí, não oferece.
Para que se utilize este recurso com a racionalidade que se faz necessária, é preciso que
tenhamos conhecimento pleno do funcionamento do SUS. Por que não discutir a saúde pública e seu funcionamento na escola? Por que não inserir na escola a prevenção como garantia de qualidade de vida? Aliás, por que se reserva tão pouco tempo na escola para estudar, discutir e entender o Estado? São questões que precisam de amadurecimento, mas que nem por isso dispensam respostas.
O programa Estratégia Saúde da Família foi criado há quase vinte anos e tem mais ligação com o SUS do que conhecemos (Claro, pois não estudamos o sistema – Como poderíamos saber?) e é avaliado, pelos especialistas, como uma das principais táticas de reorganização dos serviços e de reorientação das práticas profissionais para a promoção da saúde, prevenção de doenças e reabilitação. As UBS deveriam ser as bases de atuação das equipes do ESF, mas o foco está no atendimento nas residências e na mobilização da comunidade. A equipe é responsável por estabelecer vínculos de compromisso e de corresponsabilidade com a população e estimular a organização das comunidades para que exerçam o controle social sobre a saúde pública. Tudo isso e muito mais.
O ESF está inserido no conceito de Atenção Primária que tem a missão de resolver a maioria dos problemas de saúde. É da Atenção Primária a tarefa de definir quando um paciente deve ser submetido a níveis de mais alta complexidade (exames laboratoriais, encaminhamentos a especialistas, etc.) se houver necessidade do uso desses recursos. Este nível é de responsabilidade dos municípios, sempre.
É por falta de conhecimentos sobre o funcionamento das UBS (Posto de Saúde) e das próprias equipes do ESF (Saúde da Família/Médico da Família) que os PS (Pronto Socorro) e UPA (Unidades de Pronto Atendimento) acabam lotados e, em muitos casos, inviabilizados. Só a falta de conhecimento explica o fato de o cidadão procurar o Pronto Socorro para medir a pressão em vez de procurar o Posto de Saúde ou aproveitar que foi até ao Mini Hospital da Vila Pioneiro para levar a sogra que quebrou o cotovelo e ver como anda o “seu colesterol”. O tempo dispensado no atendimento de quem não precisa de atenção emergencial contribui para o aumento do tempo de atendimento de todos os pacientes e põe em risco a vida e a reabilitação daquele cidadão que vai chegar no PS com hemorragia interna ou fraturas causadas pelo atropelamento que ocorreu em frente ao “Cachorro Quente do Alemão”.
A falta de conhecimento do sistema também causa aquele estresse característico do paciente que aguarda um encaminhamento para um especialista ou o exame “complicado” que nunca acontece. Como o cidadão ou a cidadã vão saber que este atendimento está no nível secundário ou terciário ou que eles também são responsáveis pelo bom andamento do atendimento, sem conhecer o sistema?
São questões culturais. A saúde preventiva, o conhecimento do Estado, dos direitos cidadãos e dos programas de políticas públicas disponíveis precisam fazer parte da vida das pessoas do mesmo modo que é fácil para a grande maioria entender as regras do futebol.
De fato, os ditados populares sempre acertam o cerne destas situações.  “O seguro morreu de velho” e “prevenir é o melhor remédio” são tão antigos que é difícil precisar a origem e a data, mas retratam muito bem que a sabedoria popular ainda tem muito a oferecer à ciência e a própria política.

*Rodrigo Priesnitz é Tecnólogo em Gestão Pública, militante e filiado ao Partido dos Trabalhadores e experimenta a atividade de blogueiro.


Fonte: Blog do Seridó

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