Por
Rodrigo Priesnitz
Quem faz um seguro para o carro, de boa fé, espera jamais
precisar utilizá-lo. O que nos faz acreditar, então, que a garantia para uma
boa saúde estaria na cura e não na prevenção da doença? Pois é a comparação
que, por mais óbvia e superficial, cabe muito bem para iniciar uma discussão
sobre saúde pública.
Criado há mais de 20 anos o SUS é o Plano de Saúde dos
sonhos de qualquer cidadão ou sociedade. Tem caráter universal e é gratuito.
Onde mais se oferece um serviço como este? Sinceramente, não sei. Mas o que sei
é que apesar disso e de podermos contar com este sistema há tantos anos, nós brasileiros,
pouco sabemos a respeito.
É uma situação que deveria ser alvo de maiores estudos.
Senão vejamos, quem já assinou um contrato para aquisição de um Plano de Saúde
Privado sabe que no mesmo momento nos é oferecido “gratuitamente” um Manual
Completo do Usuário, que já traz inclusas as entrelinhas e as letras miúdas. E
em que momento de nossa vida o SUS nos oferece este Manual? O problema está aí,
não oferece.
Para que se utilize este recurso com a racionalidade que se
faz necessária, é preciso que
tenhamos conhecimento pleno do funcionamento do
SUS. Por que não discutir a saúde pública e seu funcionamento na escola? Por
que não inserir na escola a prevenção como garantia de qualidade de vida?
Aliás, por que se reserva tão pouco tempo na escola para estudar, discutir e
entender o Estado? São questões que precisam de amadurecimento, mas que nem por
isso dispensam respostas.
O programa Estratégia Saúde da Família foi criado há quase
vinte anos e tem mais ligação com o SUS do que conhecemos (Claro, pois não
estudamos o sistema – Como poderíamos saber?) e é avaliado, pelos
especialistas, como uma das principais táticas de reorganização dos serviços e
de reorientação das práticas profissionais para a promoção da saúde, prevenção
de doenças e reabilitação. As UBS deveriam ser as bases de atuação das equipes
do ESF, mas o foco está no atendimento nas residências e na mobilização da
comunidade. A equipe é responsável por estabelecer vínculos de compromisso e de
corresponsabilidade com a população e estimular a organização das comunidades
para que exerçam o controle social sobre a saúde pública. Tudo isso e muito
mais.
O
ESF está inserido no conceito de Atenção Primária que tem a missão de resolver
a maioria dos problemas de saúde. É da Atenção Primária a tarefa de definir
quando um paciente deve ser submetido a níveis de mais alta complexidade
(exames laboratoriais, encaminhamentos a especialistas, etc.) se houver
necessidade do uso desses recursos. Este nível é de responsabilidade dos
municípios, sempre.
É
por falta de conhecimentos sobre o funcionamento das UBS (Posto de Saúde) e das
próprias equipes do ESF (Saúde da Família/Médico da Família) que os PS (Pronto
Socorro) e UPA (Unidades de Pronto Atendimento) acabam lotados e, em muitos
casos, inviabilizados. Só a falta de conhecimento explica o fato de o cidadão
procurar o Pronto Socorro para medir a pressão em vez de procurar o Posto de
Saúde ou aproveitar que foi até ao Mini Hospital da Vila Pioneiro para levar a
sogra que quebrou o cotovelo e ver como anda o “seu colesterol”. O tempo
dispensado no atendimento de quem não precisa de atenção emergencial contribui
para o aumento do tempo de atendimento de todos os pacientes e põe em risco a
vida e a reabilitação daquele cidadão que vai chegar no PS com hemorragia interna
ou fraturas causadas pelo atropelamento que ocorreu em frente ao “Cachorro
Quente do Alemão”.
A
falta de conhecimento do sistema também causa aquele estresse característico do
paciente que aguarda um encaminhamento para um especialista ou o exame “complicado”
que nunca acontece. Como o cidadão ou a cidadã vão saber que este atendimento
está no nível secundário ou terciário ou que eles também são responsáveis pelo
bom andamento do atendimento, sem conhecer o sistema?
São
questões culturais. A saúde preventiva, o conhecimento do Estado, dos direitos
cidadãos e dos programas de políticas públicas disponíveis precisam fazer parte
da vida das pessoas do mesmo modo que é fácil para a grande maioria entender as
regras do futebol.
De
fato, os ditados populares sempre acertam o cerne destas situações. “O seguro morreu de velho” e “prevenir é o
melhor remédio” são tão antigos que é difícil precisar a origem e a data, mas
retratam muito bem que a sabedoria popular ainda tem muito a oferecer à ciência
e a própria política.
*Rodrigo Priesnitz é Tecnólogo em Gestão Pública, militante
e filiado ao Partido dos Trabalhadores e experimenta a atividade de blogueiro.
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