por Rodrigo Priesnitz
As mobilizações urbanas já arrefeceram, em alguns
aspectos perderam a força e muitas versões e análises ainda são contraditórias.
Muita gente ainda está tentando compreender os acontecimentos deste junho de
2013. Já discorri dos perigos de análises prematuras, no entanto algumas opiniões
já são partilhadas por um número cada vez maior de pessoas. Para você que
pretende formar uma opinião, existem situações que não podem passar
despercebidas.
O desconhecimento de acontecimentos importantes da
história, a ausência de leituras apuradas do passado e a discordância das
pautas contribuiu para o enfraquecimento e desarticulação das mobilizações.
Velhas bandeiras, ha muito tempo esquecidas, retornaram ao cenário como
novidade. Mas o que mais se notou foi a escandalosa inversão de fatos e valores.
Antigos líderes e ícones da esquerda mundial, como Mandela ou Gandhi, se
transformaram em novos mocinhos das manifestações de direita. Por não conhecer
a história, não sabem que tanto o primeiro como o segundo, lutaram durante a
maior parte de suas vidas contra o imperialismo, contra o racismo, utilizando às
vezes a violência, outras vezes a desobediência civil. Mandela, a seu modo e no
seu tempo, instituiu cotas raciais para equilibrar as enormes diferenças que o
regime Apartheid produziu ao longo de tantas décadas de segregação racial.
Muito dissonante de parte das reivindicações que tomaram as ruas no Brasil.
Nenhuma análise é precisa, sem recorrer aos
acontecimentos internacionais, principalmente no que diz respeito aos nossos
vizinhos sul-americanos. As recentes tentativas de golpe ocorridas na Venezuela, o golpe no Paraguay e o mais recente episódio que colocou em risco a segurança do Presidente da
Bolívia, Evo Morales, corroboram com as teses de que estes governos sul-americanos
que trilham caminhos independentes de Washington convivem freqüentemente com
tentativas de desestabilização. Se nas ruas o golpe perdeu impulso, nos
bastidores e nas salas acarpetadas das altas esferas de poder, continua
acelerado.
Quanto ao que se passa em nosso quintal, tudo
estava com cara de golpe, tinha cheiro de golpe e de fato, se tratava de golpe.
Porém, com tamanha misturança de ideias e bandeiras, confusão de pautas e
ausência de centralidade que diluiu a força e os efeitos a tempo de que as
instituições assumissem ainda que precariamente, no entanto de maneira
perceptível, o controle da situação. E quando a direita raivosa acreditou
transferir para o governo federal a atenção de todos os protestos, a Presidenta
Dilma fez do limão uma limonada, colocando no centro das discussões a
necessidade de uma reforma política com a participação popular.
Há também que se abrir parágrafo à parte, com
relação à outra contribuição para o esfriamento dos protestos. O Capital deixa ir os anéis, mas poupa os
dedos. Muitas empresas planejaram faturar importantes somas com a realização da
Copa das Confederações no Brasil. Todas
as grandes patrocinadoras do evento viram seus lucros diminuírem
consideravelmente com a coincidência das manifestações no momento de realização
da competição. Os prejuízos não ficaram apenas com o vendedor de canecas,
bandeirolas e camisetas. Tentem lembrar dos comerciais que utilizaram a Copa
das Confederações como referência e analisem se os bancos, seguradoras, administradoras
de planos de saúde, montadoras de automóveis, redes hoteleiras, entre outras
que investiram milhões de Reais em publicidade não ficaram decepcionadas com a
atuação da própria mídia nos momentos em que essa incitou uma ampliação dos
protestos, diminuindo consideravelmente a percepção de lucro de suas
patrocinadoras?
São poucas linhas para resumir acontecimentos tão
importantes, mas a intenção não é esclarecer, absolutamente, e sim de suscitar
as dúvidas. São elas, as dúvidas, as únicas capazes de nos mover em busca das
soluções e da melhor compreensão da realidade que nos cerca. Aos
questionadores, um sonoro grito de Viva!
*Rodrigo Priesnitz é
Tecnólogo em Gestão Pública, militante e filiado ao Partido dos Trabalhadores e
experimenta a atividade de blogueiro.
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