quarta-feira, 3 de julho de 2013

“Saudações a quem tem coragem!”

por Rodrigo Priesnitz
As mobilizações urbanas já arrefeceram, em alguns aspectos perderam a força e muitas versões e análises ainda são contraditórias. Muita gente ainda está tentando compreender os acontecimentos deste junho de 2013. Já discorri dos perigos de análises prematuras, no entanto algumas opiniões já são partilhadas por um número cada vez maior de pessoas. Para você que pretende formar uma opinião, existem situações que não podem passar despercebidas.
O desconhecimento de acontecimentos importantes da história, a ausência de leituras apuradas do passado e a discordância das pautas contribuiu para o enfraquecimento e desarticulação das mobilizações. Velhas bandeiras, ha muito tempo esquecidas, retornaram ao cenário como novidade. Mas o que mais se notou foi a escandalosa inversão de fatos e valores. Antigos líderes e ícones da esquerda mundial, como Mandela ou Gandhi, se transformaram em novos mocinhos das manifestações de direita. Por não conhecer a história, não sabem que tanto o primeiro como o segundo, lutaram durante a maior parte de suas vidas contra o imperialismo, contra o racismo, utilizando às vezes a violência, outras vezes a desobediência civil. Mandela, a seu modo e no seu tempo, instituiu cotas raciais para equilibrar as enormes diferenças que o regime Apartheid produziu ao longo de tantas décadas de segregação racial. Muito dissonante de parte das reivindicações que tomaram as ruas no Brasil.
Nenhuma análise é precisa, sem recorrer aos acontecimentos internacionais, principalmente no que diz respeito aos nossos vizinhos sul-americanos. As recentes tentativas de golpe ocorridas na Venezuela, o golpe no Paraguay e o mais recente episódio que colocou em risco a segurança do Presidente da Bolívia, Evo Morales, corroboram com as teses de que estes governos sul-americanos que trilham caminhos independentes de Washington convivem freqüentemente com tentativas de desestabilização. Se nas ruas o golpe perdeu impulso, nos bastidores e nas salas acarpetadas das altas esferas de poder, continua acelerado.
Quanto ao que se passa em nosso quintal, tudo estava com cara de golpe, tinha cheiro de golpe e de fato, se tratava de golpe. Porém, com tamanha misturança de ideias e bandeiras, confusão de pautas e ausência de centralidade que diluiu a força e os efeitos a tempo de que as instituições assumissem ainda que precariamente, no entanto de maneira perceptível, o controle da situação. E quando a direita raivosa acreditou transferir para o governo federal a atenção de todos os protestos, a Presidenta Dilma fez do limão uma limonada, colocando no centro das discussões a necessidade de uma reforma política com a participação popular.
Há também que se abrir parágrafo à parte, com relação à outra contribuição para o esfriamento dos protestos.  O Capital deixa ir os anéis, mas poupa os dedos. Muitas empresas planejaram faturar importantes somas com a realização da Copa das Confederações no Brasil.  Todas as grandes patrocinadoras do evento viram seus lucros diminuírem consideravelmente com a coincidência das manifestações no momento de realização da competição. Os prejuízos não ficaram apenas com o vendedor de canecas, bandeirolas e camisetas. Tentem lembrar dos comerciais que utilizaram a Copa das Confederações como referência e analisem se os bancos, seguradoras, administradoras de planos de saúde, montadoras de automóveis, redes hoteleiras, entre outras que investiram milhões de Reais em publicidade não ficaram decepcionadas com a atuação da própria mídia nos momentos em que essa incitou uma ampliação dos protestos, diminuindo consideravelmente a percepção de lucro de suas patrocinadoras?

São poucas linhas para resumir acontecimentos tão importantes, mas a intenção não é esclarecer, absolutamente, e sim de suscitar as dúvidas. São elas, as dúvidas, as únicas capazes de nos mover em busca das soluções e da melhor compreensão da realidade que nos cerca. Aos questionadores, um sonoro grito de Viva!


*Rodrigo Priesnitz é Tecnólogo em Gestão Pública, militante e filiado ao Partido dos Trabalhadores e experimenta a atividade de blogueiro.

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