por
Rodrigo Priesnitz*
No
ano passado recebi um convite inusitado, para participar de um
“Retiro para Homens”, da
Igreja Evangélica Livre.
Feito por um grande amigo, o convite era irrecusável, e
mais tarde se mostrou muito oportuno, visto que todo o encontro foi
revelador e de grande valia para que eu pudesse compreender e aceitar
o momento particular pelo qual passava.
Também
foi uma experiência valorosa pela oportunidade de observar assuntos,
aos quais eu julgava dominar, sob a perspectiva de um olhar alheio,
diferente do meu, e
também por debater temas não tão
íntimos ou explorados em nosso dia a dia.
Em uma das palestras que mais me chamou a atenção, o orador, um
estudioso muito
preparado e embasado em fatos históricos além da formação
teológica aprimorada, discorreu à
cerca de conceitos sobre o Amor
e suas variáveis. Explicou, muito bem, que em grego antigo o Amor
é retratado em diversas palavras e que na palavra Ágape,
encontra-se a melhor definição para o Amor
Incondicional.
Ele
citou o
Apóstolo Paulo em Coríntios 13 4-7: “O
amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria,
não se orgulha. Não
maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não
guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra
com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.”
É
uma citação que cabe em
muitos momentos de nossa vida. Precisamente,
nesse momento
que avalio situações, novamente inusitadas, vejo mais
uma oportunidade de aplicar este
entendimento.
Que
tipo de amor faria alguém se motivar a adotar o filho de outro,
senão o Amor
Ágape,
incondicional? Se é o amor que move o desejo de adotar, e eu
realmente creio que seja, que dá a você aquela certeza de que uma
criança precisa de você e que te dá toda a paciência e força
necessárias para aguardar o desenrolar de processos e decisões
judiciais, esse amor só pode ser incondicional. Acima de tudo. Na
certeza do agir corretamente, dentro daquilo que se acredita.
A
adoção é também um
ato de extrema
coragem.
Uma
declaração de liberdade quanto a preconceitos
e de
total responsabilidade para
com
aquele
novo ser que entrará
na
família e passará
a fazer parte dela para sempre. Adotar uma criança significa dar-lhe
um lar, e
mais que isso, oportunidade
de ter a vida digna de um ser humano.
Não
é fácil e não é simples, ao contrário, adotar é uma atitude
complexa. Os dados disponíveis
sobre adoção estimam
que apenas 52% das adoções sejam formalizadas. A quase outra metade
foge das estatísticas e do controle. Basta uma simples olhada para
os números oficiais e se percebe algumas contradições que
justificam essa estimativa. Pelos dados oficiais, 96,2% das mães e
85,5% dos pais adotivos são de cor branca, quase metade estão
cursando ou já possuem escolaridade de nível superior e 72,5% das
famílias tem renda média
de
3 a
30 salários mínimos. Antes
de acreditar que a grande maioria dos casais adotantes são brancos
de olhos azuis, com
renda confortável e graduação,
observe estes dados pela perspectiva de que casais negros, pobres
e de nível escolar mais baixo
ainda encontram maiores dificuldades para formalizar as adoções
perante a nossa justiça e que, portanto, estão inseridos e devem
ser a grande maioria dos adotantes que não legalizaram
as adoções. Um índice revelador sobre o preconceito que ainda
divide a sociedade brasileira.
No
entanto, antes de fazer uma análise fria sobre os números, o texto de hoje busca
fazer uma
simples homenagem àqueles que se dedicam a salvar e encaminhar para
o bem, e para o caminho
do
amor, outras vidas até então alheias aos seus destinos.
Olhar
nos olhos de quem tomou a decisão pela adoção e recebeu a notícia
tão esperada é uma das visões mais inspiradoras que já
testemunhei.
É uma alegria intensa que
irradia bons sentimentos
e contagia a todos. É, de certa forma, uma recompensa por continuar
acreditando no amor. Aquele que tem
amor a dar, que quer ter um filho e possui condições de dar-lhe
perspectivas,
que o faça. As recompensas virão de formas incríveis e
inimagináveis.
*Rodrigo
Priesnitz é Tecnólogo em Gestão Pública, militante e filiado ao
Partido dos Trabalhadores e experimenta a atividade de blogueiro.
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