terça-feira, 11 de junho de 2013

Amor Ágape, inspirador da decisão da adoção

por Rodrigo Priesnitz*

No ano passado recebi um convite inusitado, para participar de um “Retiro para Homens”, da Igreja Evangélica Livre. Feito por um grande amigo, o convite era irrecusável, e mais tarde se mostrou muito oportuno, visto que todo o encontro foi revelador e de grande valia para que eu pudesse compreender e aceitar o momento particular pelo qual passava.

Também foi uma experiência valorosa pela oportunidade de observar assuntos, aos quais eu julgava dominar, sob a perspectiva de um olhar alheio, diferente do meu, e também por debater temas não tão íntimos ou explorados em nosso dia a dia. Em uma das palestras que mais me chamou a atenção, o orador, um estudioso muito preparado e embasado em fatos históricos além da formação teológica aprimorada, discorreu à cerca de conceitos sobre o Amor e suas variáveis. Explicou, muito bem, que em grego antigo o Amor é retratado em diversas palavras e que na palavra Ágape, encontra-se a melhor definição para o Amor Incondicional.

Ele citou o Apóstolo Paulo em Coríntios 13 4-7: O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.”

É uma citação que cabe em muitos momentos de nossa vida. Precisamente, nesse momento
que avalio situações, novamente inusitadas, vejo mais uma oportunidade de aplicar este entendimento. Que tipo de amor faria alguém se motivar a adotar o filho de outro, senão o Amor Ágape, incondicional? Se é o amor que move o desejo de adotar, e eu realmente creio que seja, que dá a você aquela certeza de que uma criança precisa de você e que te dá toda a paciência e força necessárias para aguardar o desenrolar de processos e decisões judiciais, esse amor só pode ser incondicional. Acima de tudo. Na certeza do agir corretamente, dentro daquilo que se acredita.

A adoção é também um ato de extrema coragem. Uma declaração de liberdade quanto a preconceitos e de total responsabilidade para com aquele novo ser que entrana família e passa a fazer parte dela para sempre. Adotar uma criança significa dar-lhe um lar, e mais que isso, oportunidade de ter a vida digna de um ser humano.

Não é fácil e não é simples, ao contrário, adotar é uma atitude complexa. Os dados disponíveis sobre adoção estimam que apenas 52% das adoções sejam formalizadas. A quase outra metade foge das estatísticas e do controle. Basta uma simples olhada para os números oficiais e se percebe algumas contradições que justificam essa estimativa. Pelos dados oficiais, 96,2% das mães e 85,5% dos pais adotivos são de cor branca, quase metade estão cursando ou já possuem escolaridade de nível superior e 72,5% das famílias tem renda média de 3 a 30 salários mínimos. Antes de acreditar que a grande maioria dos casais adotantes são brancos de olhos azuis, com renda confortável e graduação, observe estes dados pela perspectiva de que casais negros, pobres e de nível escolar mais baixo ainda encontram maiores dificuldades para formalizar as adoções perante a nossa justiça e que, portanto, estão inseridos e devem ser a grande maioria dos adotantes que não legalizaram as adoções. Um índice revelador sobre o preconceito que ainda divide a sociedade brasileira.

No entanto, antes de fazer uma análise fria sobre os números, o texto de hoje busca fazer uma simples homenagem àqueles que se dedicam a salvar e encaminhar para o bem, e para o caminho do amor, outras vidas até então alheias aos seus destinos.

Olhar nos olhos de quem tomou a decisão pela adoção e recebeu a notícia tão esperada é uma das visões mais inspiradoras que já testemunhei. É uma alegria intensa que irradia bons sentimentos e contagia a todos. É, de certa forma, uma recompensa por continuar acreditando no amor. Aquele que tem amor a dar, que quer ter um filho e possui condições de dar-lhe perspectivas, que o faça. As recompensas virão de formas incríveis e inimagináveis.


*Rodrigo Priesnitz é Tecnólogo em Gestão Pública, militante e filiado ao Partido dos Trabalhadores e experimenta a atividade de blogueiro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O Ponta Esquerda não publica comentários ofensivos, que utilizem expressões de baixo calão ou preconceituosas, nem textos escritos exclusivamente em letras maiúsculas ou que excedam 15 linhas.