quinta-feira, 11 de julho de 2013

Quando novos personagens entraram em cena

O ato humano primordial deve conter a resposta à pergunta que se faz a todo recém-chegado: quem és?
(Hannah Arendt)


por Joana Darc Faria de Souza e Silva*

Gostaria que o saudoso Eder Sader (intelectual, político e militante) estivesse conosco, para comentar o significado da atual manifestação, principalmente no sudeste e no sul do país, uma vez que sua tese de doutorado apresentada na USP em 1988 referia-se às experiências e lutas dos trabalhadores (as) de São Paulo nos anos 1970 e 1980, um brilhante trabalho sobre os novos personagens daquele tempo histórico.
Como professora de História e integrante do movimento social, os fluidos do sociólogo passaram sobre mim nestes últimos dias, trazendo a vontade de entender e de escrever sobre tais manifestações. Aproxima-se o ano eleitoral e o cenário de hoje não se compara com o daquela época dos anos sombrios da Ditadura civil-militar, no entanto bastou uma pesquisa divulgar a vitória da Presidenta Dilma no primeiro turno nas eleições de 2014 que a oposição reagiu de imediato. E a desagradou também à realização de conferências do governo nas capitais com o lançamento do livro sobre os 10 anos dos governos Lula e Dilma, com o lançamento do livro organizado pelo professor militante Emir Sader. Por sinal, tive a honra em participar. É bom lembrar que o atual governo federal é composto por vários partidos (coalisão) em torno de um projeto democrático e popular: “País rico é País sem pobreza”.
Ausentes na política, mas ligados na internet, onde estão os anjos e demônios, o primeiro ato foi pelo passe-livre. Muito bem bolado para dar a largada do seriado patrocinado por quem? A novidade foi uma mobilização massiva do monopólio do Facebook e seus desdobramentos que a História talvez irá contar futuramente.
Sem identificação com os movimentos sociais, os estudantes liberais, antipartidários, evasivos, mascarados, neonazistas, tinham presença marcante em locais e horários determinados.
  No país democrático, o verde-amarelo no calor cívico da Copa das Confederações, os oportunistas atenderam ao comando de reivindicações genéricas e de uma guerra civil, orquestrada pela mídia conservadora repetitiva e insistente noticiava “o movimento pacífico”, mas nem o ano de 1968 que sacudiu o mundo foi tão violento e depredador.
Aqui vale lembrar e homenagear Jacob Gorender (historiador falecido recentemente aos 90 anos), de rara coerência e coragem, nos ensinou “a luta pacífica pelo socialismo”. De início, as manifestações que afrontavam a nossa jovem democracia tão sonhada, parecia com as marchas conservadoras de 1964, em ritmo de golpe, buscando a deposição de Jango. Até hoje a CIA e a SNA (Agências de Inteligência e Segurança dos Estados Unidos) vigiam a América Latina, o Caribe e outros continentes. Já em 2011, FHC (o sociólogo do “esqueça o que escrevi”) planejava colocar a classe média nas ruas do Brasil, só não falou sobre o IMIL (Instituto Millenium, situado no Rio de Janeiro). “Só mesmo a direita reacionária afirma suas certezas, mesmo ferindo os valores da democracia” (Mino Carta).
Assim com cartazes, os manifestantes avulsos ou políticos avulsos (como quer o presidente do STF), escolheram a Educação e a Saúde como pretexto para exigir um Brasil melhor. Os médicos? Ah, os médicos! Infelizmente nunca se mobilizaram em defesa do SUS.
Mesmo com o quebra-quebra, os manifestantes ficaram famosos (sem dançar no Domingão do Faustão), como quem descobriu a pólvora. Até parece que não existe ninguém nos plenários, nas plenárias pelo País afora, na defesa das políticas públicas por um Brasil melhor. Por que não manifestaram contra a privataria tucana que liquidou o Brasil e a mercantilização da Educação, da Saúde e outros serviços públicos?
Nosso povo lutador de hoje, de ontem e de sempre não saiu da cartola nem do Facebook, nosso tempo de estrada continua sendo nos debates intensos e exaustivos de várias entidades de classe organizadas em todos os cantos mais longínquos e inóspitos do nosso país continental.
É bom considerar também que nós vivemos num país manchado por séculos de corrupção, injustiças e preconceitos diversos, de um povo que sempre resistiu sem perder a esperança e que levou à Presidência da República um trabalhador operário e depois uma mulher, a primeira presidenta, ambos de uma história invejável e que provaram que um novo Brasil é possível.
Quero dizer aos jovens que não podemos perder a referência do passado, pois recordar é um exercício mais do que necessário para não retrocedermos. Hoje nosso país é referência internacional, mesmo tendo ainda muito por fazer.
Afinal, os novos personagens que entraram em cena dramática, não têm nada a ver com aquela que o sociólogo Eder Sader se referia em sua tese em 1988. Aqueles foram os primeiros que lutaram pelo primeiro direito: o direito de reivindicar, com autonomia e criatividade. Foi o que a nossa geração aprendeu, assim como resistir com autenticidade, a um projeto político coletivo e uma identidade comunitária, que nos distingue por fazer política, através da luta democrática, associada também a um partido, que nos dizeres de Karl Marx, é o “fiel depositário da luta de classes”.
Com este propósito, graças ao movimento popular, ao longo de séculos de nossa História, muita coisa melhorou em nosso país (saiba mais, acessando na internet o documentário do jornalista Sérgio Ferreira "Receitas de Bolo e Cidadania - Democracia Feita em Casa", produzido em 2006).

E a nossa luta é permanente pela superação da herança capitalista catastrófica e neoliberal no Brasil. E no espírito de Che Guevara pela superação do imperialismo terrorista estadunidense que promove ameaças, espionagens, guerras e golpes, ferindo os princípios da democracia, soberania e autodeterminação dos povos.

Orgulhosamente, em defesa da democracia e dos princípios socialistas “Somos sujeitos da nossa própria História”.

Adelante!

*Joana Darc Faria de Souza e Silva 
Professora de História, especialista em Educação de jovens e adultos e Ensino da cultura, artes e história        afro-brasileira e indígena na educação básica. Militante do PT desde 1989.

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