por Rodrigo Priesnitz*
Jogo de cena para alguns, semântica para tantos ou
simples desrespeito para outros mais. Afinal, o que seria a tal “chicana” que o
Presidente do STF se referia? No jargão jurídico é o mesmo que criar uma
dificuldade com base em um detalhe irrelevante, de forma capciosa, com a
finalidade de auferir vantagem no processo. Uma “tramóia”.
Automaticamente vem a tona um debate sobre a ética,
seja em uma instituição ou para qualquer profissão. A Deontologia faz parte da
filosofia moral contemporânea e sua origem significa, em grego, ciência do
dever e da obrigação. Trata-se de uma teoria sobre as escolhas dos indivíduos e
serve para nortear o que realmente deve ser feito. Immanuel Kant, filósofo
alemão do século XIX, deu uma grande contribuição a Deontologia ao dividi-la em
dois conceitos, razão prática e liberdade. Segundo Kant, agir por dever dá a
ação o valor moral, enquanto agir por livre vontade manifesta a perfeição
moral.
Não à toa que em Portugal, por exemplo, o Código de Ética do
Jornalismo se denomina Código Deontológico. Poderia falar de qualquer profissão
e preferi essa, que nos últimos tempos tem demonstrado grande sintonia com as
atividades do STF, quase uma simbiose. Todos os
Códigos de Ética do jornalismo incluem como valores e preceitos fundamentais a
busca da verdade, a veracidade e a precisão das
informações.
Por sua vez, a Declaração de
Princípios sobre a Conduta do Jornalista, da Federação
Internacional de Jornalistas (FIJ),
afirma que "jornalistas dignos do nome" (art. 9) devem seguir
fielmente o princípio estabelecido em seu artigo 1º: "O respeito à verdade
e ao direito do público à verdade é a primeira obrigação do jornalista".
Como no meio jurídico, existem
alguns apelidos que as próprias redações dão aos atos que fogem à atuação
dentro da ética. Algumas relações entre
jornalistas e os assuntos de suas matérias chegam próximas da promiscuidade,
principalmente quando as fontes e personagens oferecem benefícios materiais em
troca de exposição na mídia, publicidade ou elogios. Essa relação pode ser
tácita e velada, na forma de “presentes”. A esta prática de suborno implícito o
jargão chama de “jabaculê”, ou simplesmente “jabá” e pode
acontecer ao contrário, pelo represamento da informação. Já nos casos em que um
assunto, por conta própria, não
tenha valor noticioso suficiente para ser publicado, diz-se que a matéria foi
"plantada" na redação — ou seja, nascida no ambiente externo à
redação, e não naturalmente, pelo "faro" dos repórteres. Quando a
pressão vem dos diretores ou donos do veículo se chama “reco”, ou pauta 500. A imparcialidade é tema central nas discussões sobre ética
jornalística. É difícil distinguir textos jornalísticos objetivos da simples opinião. Jornalistas podem
ser vítimas de propaganda ou desinformação e mesmo
sem cometer fraude deliberada, dar um recorte
seletivo na apuração e na redação, focando em determinados aspectos em
detrimento de outros, ou dando explicações parciais.
Ao discorrer sobre um tema tão
polêmico, para não dizer desagradável, não carrego comigo
a presunção de julgar
a atuação de nenhum profissional, mas chamar a atenção da comunidade para os
efeitos desastrosos de um comportamento relapso quanto aos preceitos éticos do
jornalismo. O caso brasileiro mais clássico de abuso na divulgação de
informações inverídicas ficou conhecido como “Caso Escola Base” e serviu de
exemplo do poder de destruição que o descuido, negligência ou má fé na
divulgação de informações podem causar. Nesse caso, a destruição social e
econômica da vida de seis pessoas inocentes envolvidas indevidamente em uma
investigação policial de pedofilia pela irresponsabilidade de alguns jornais e
obviamente de seus jornalistas, que na ânsia de oferecer ao público um grande
“furo jornalístico”, acabaram por influenciar, contaminar e comprometer a
própria investigação. Este artigo, por exemplo, embora carregado de
informações, é apenas a manifestação da opinião do autor, nada mais.
Confundir divulgação de informação
com emissão de opinião é falta gravíssima ao código de ética do jornalismo, assim
como para a justiça, imputar a um par o comportamento anti ético do qual faz
uso.
Minha professora primária já dizia, lá nos bancos do Colégio Dr. João
Cândido Ferreira, que aquele que aponta para a mancha na camisa do colega quer
mesmo é esconder o próprio dedo sujo.
*Rodrigo Priesnitz é
Tecnólogo em Gestão Pública, militante e filiado ao Partido dos Trabalhadores e
experimenta a atividade de blogueiro.
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