Por Fernando Brito, para o Blog Tijolaço
Semana passada, o Wall Street Journal publicou
uma matéria sobre os riscos de uma “bolha de crédito” no Brasil. Usou como
exemplo da história de Dona Odete Meira da Silva, essa simpática mulher aí da
foto. Diz o jornal que ela é mãe solteira, comprou um computador,
uma TV de tela plana e começou a construir uma casa num bairro violento da
periferia de São Paulo, que se parece com o Bronx novaiorquino, digo eu.
Mas
a foto mostra que o sonho de Dona Odete está ainda pela metade, porque ela se
viu com muitas dívidas e, prudente, “deu um tempo” até que as coisas melhorem. O
jornal diz que a obra da casa de Dona Odete, que espera a hora de fazer o
acabamento do segundo andar, é um retrato “da própria escalada na economia
brasileira: só (foi) até
a metade”.
A
Dona Odete, porém, é mais esperta. Para ela, a obra já foi até a metade e,
assim que ela se desapertar, vai continuar: “Ainda pretendo terminar a casa,
mas isso vai ter que ser feito pouco a pouco, talvez em mais três anos”, diz
ela. Mas os jornalistas do Wall Street, talvez por não terem a experiência
sobre como os pobres conseguem as coisas – aos poucos e com esforço – mostram
que são menos espertos que Dona Odete. Repetem um amontoado de frases ouvidas
dos iluminados do mercado e não conseguem compreender – mesmo que o digam – que
a prosperidade brasileira se confundiu e se alimentou da elevação do poder de
compra da população pela via ao aumento da renda e do aumento do crédito.
Esquecem
que nossas taxas de juros elevadas não decorrem da inflação, mas da alta taxa
de ganho que os investidores internacionais – aqueles lá da Wall Street –
exigem para fazer aportar aqui seu capital. E que são os problemas financeiros
do mundo desenvolvido – e não os nossos – que estão gerando as turbulências por
aqui. Mas o mais chocante é a afirmação de dizer que o endividamento americano
– muito maior que o brasileiro – é algo “economicamente mais saudável” por ser
fundado em hipotecas, que somam 80% do PIB americano, enquanto todas as
modalidades de crédito no Brasil, somadas, mal passam dos 50%!
Tenham
paciência, chamar de saudável este sistema hipotecário que explodiu e lançou o
mundo na pior crise pós-29, debaixo das barbas do jornal? Eu me animei aqui,
porque queria apenas apresentar o texto escrito pelo economista Jorge Mattoso,
da Unicamp e ex-presidente da Caixa Econômica Federal no governo Lula. Leia e
confira como Dona Odete tem toda a razão: ela já tem uma escada para subir ao
segundo andar, que ninguém mais vai demolir.
Há
pouco mais de 10 anos, quando o Brasil praticava direitinho as regras dos
“sabichões” da economia, Dona Odete não tinha nada.
Fonte: Blog O Tijolaço
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