terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

A evidenciação dos cornos

Por Rodrigo Priesnitz*

Fazia algumas semanas que Dona Narcisa desconfiava que o marido lhe estava a pôr algumas guampas. Vinte anos de casamento e ela jamais havia colocado a lealdade do parceiro em dúvida. Três filhos, todos bem criados, vida econômica estável e nada a desejar no íntimo dos lençóis de fios egípcios.
Duas décadas de uma vida confortável e sem percalços estava ameaçada. Era doloroso imaginar, mas a dúvida lhe causava uma intriga emocional que a queimava por dentro.
Uma mancha de batom no colarinho da camisa foi o estopim. 
Pois no auge de sua aflição contratou um detetive particular para pôr fim à agonia. 
Dentro de alguns dias o Dr. Arapuã lhe trouxe o relatório das investigações. Dezenas de horas de escutas telefônicas, centenas de minutos de vídeo em HD, milhares de fotografias em lentes objetivas, kilometros de extratos bancários, pilhas de matrículas de registros de imóveis, engradados de boletos de mensalidade escolar, cadernetas de farmácia e padaria compunham um acervo volumoso. 
As evidências eram definitivas. O homem tinha outra família, com direito a cachorro, gato, papagaio, bicicleta, sogra e neto! Sim, o desgraçado era avô!
O mundo de Dona Narcisa veio abaixo. Com seu orgulho ferido, Dona Narcisa não aceitava sua nova condição. Afinal, como foi que de uma hora para outra ela virou a maior corna do bairro?
Maldita mancha de batom...
Maldito Dr. Arapuã!

Moral da história: O corno ou corna pode passar 20 anos levando chifres sem nada saber, mas definitivamente, passa a ser corno ou corna só depois que descobre!


*Rodrigo Priesnitz é Tecnólogo em Gestão Pública e alimenta este Blog quando o tempo lhe permite.

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