sábado, 11 de julho de 2015

A Travessia - Trecho das memórias de Adalberto Ludwig e a relação de amizade com a família Priesnitz

A história da Família Priesnitz no Brasil tem tradição verbal transmitida de geração a geração. Não tenho conhecimento de relatos documentados sob a ótica da Família Priesnitz. O texto que segue é um trecho das memórias do Sr. Adalberto Ludwig, filho de imigrantes europeus que conviveram e cultuaram forte amizade com Emil Priesnitz, meu tataravô. Boa leitura!
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Encontrei estas anotações entre os pertences do meu pai, Günter Ludwig. São anotações que meu avô Adalberto Ludwig deixouque agora foram traduzidas fielmente do original, sem nenhuma adaptação, apenas com algumas notas explicativas, entre colchetes [ ]. Não sei ao certo quando estas memórias foram escritas, mas certamente foram após março de 1979, data mais recente apontada nelas. Adalberto Ludwig faleceu em 5 de julho de 2004, na idade de 97 anos.
Pedro André Ludwig – Estrela, RS, 29 de dezembro de 2013
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(...)

[história da imigração]
Zyrardow – cidade polonesa em Warschau [Varsóvia], cerca de 30.000 habitantes. Indústria xtil.
A primeira tecelagem de linho na Polônia foi uma exigência do Czar Nicolau II Alexandrowitsch [Alexandre] da Rússia 1868-1918 (naquela época Varsóvia estava sob domínio russo)e foi construída por Hillert e Dietrich, dois austríacos de Freudenthal, da Silésia-Áustria. Os dois empresários da fábrica responderam ao pedido do Czar, que eles concordariam em construir uma tecelagem em Zyrardow, somente com a condição de eles poderem levar junto os trabalhadores da fábrica da Áustria. Isto foi algo que o Czar nem precisou pensar, e aceitou de bom grado.
Franz Ludwig e Emil Priesnitz (dois tecelões) e outros que eu não sei o nome, mudaram-se de Freudenthal-Áustria para Zyrardow, e trabalharam vários anos na tecelagem.
Lá tiveram muito trabalho, seis dias por semana, nove horas todos os dias – O salário dos trabalhadores não era bom. Todos trabalhadores ansiavam por uma vida melhor. Na tecelagem trabalhavam austríacos, alemães e outros.
Então vieram propagandistas que incentivaram operários e outros residentes de Zyrardow, a emigrarempara o Brasil. Os propagandistas eram pessoas do Brasil, enviados por D. Pedro II, dizendo que era uma terra muito melhor.
Para os imigrantes foi dito: isto não vai demorar mais muito, então haverá na Europa uma grande guerra; muitos países serão envolvidos, como Rússia, Áustria, Alemanha e outros países, e podemos dizer que desta guerra ninguém será poupado. Em seguida vai piorar ainda mais.
Além disso, foi dito:
No Brasil nenhum de vocês ou nenhum de vossos filhos precisarão prestar serviço militar, e a cada ano fica mais barato uma grande colônia, sendo que podem trabalhar e fazer negócios, livres e sem perturbações. Ainda muito mais foi dito a estas pessoas, mas não correspondia bem à verdade. Muitos imigrantes ficaram desapontados de terem vindo ao Brasil.
Muitos austríacos, poloneses e alemães se interessaram em se mudar para o Brasil. Aqui no Rio Grande do Sul os poloneses e alemães se separaram. Os alemães se estabeleceram mais ao sul, na Depressão Central, e os poloneses foram mais para a área da serra, como Erechim, Santo Ângelo, Ijuí, e assim por diante.
Em Hamburg começou a aumentar o número de emigrantes. 
Começando em novembro de 1889, aumentavam os emigrantes no navio que os levaria ao Brasil.
Então o Brasil ainda era Império – ao chegarem eles no Rio de Janeiro, o Brasil já era República.
A viagem de Hamburg para o Brasil durou mais de um mês.
Durante sua longa viagem, morreu em alto mar um filho de 12 anos de Emil Priesnitz. O morto foi, depois do discurso funeral do capelão do navio e de cantos de vários passageiros, largado abaixo nas ondas do mar. Adolf, o filho mais velho de Franz Ludwig, também cantou junto.
Adolf Ludwig dizia com frequência: “isso foi o mais difícil da nossa viagem.”
No Rio de Janeiro, a família Ludwig e Priesnitz, e outros, ficaram quatro dias na Ilha das Flores.
Do Rio de Janeiro eles viajaram com um navio a vapor costeiro [provavelmente o ‘Continentista’] para Porto Alegre. Lá ficaram hospedados alguns dias noHotel Reich.
De Porto Alegre viajaram com o vapor para Porto Mariante.
A tia Rosa ficou no Hotel Reich, por pedido da Senhora Reich.
Rosa mais tarde se casou com Ferdinand Reich, filho do hoteleiro.
De Porto Mariante, as famílias Ludwig e Priesnitz viajaram numa carreta de bois, uma carreta de duas rodas, puxado por várias juntas de bois, até Venâncio Aires. Ali ficaram 2 dias numa residência de nome Myhëres – Venâncio Aires tinha então bem poucas residências. De Venâncio Aires a viagem seguiu a pé, orientados por um condutor, até Linha Brasil, no 3º Distrito de Santa Cruz do Sul. O caminho que eles andaram de Venâncio Aires até Linha Brasil era tão ruim, que quase não se conseguia atravessar com uma pequena carroça de bois. Lá eles foram para a residência de Ignatz Müller, uma das primeiras residências da Linha Brasil. 
Nos dias durante a hospedagem com Ignatz Müller, Franz Ludwig e Emil Priesnitz foram a pé até Alto Linha Saraiva para suas propriedades de Terra que receberam. Suas mulheres e filhos ficaram na casa de Ignatz Müller.
Cada um dos dois construiu para si, na sua propriedade, um pequeno rancho. Quando ficaram prontos, voltaram para suas famílias. Então pais e filhos se aprontaram para a viagem dali até seu novo lar, Alto Linha Saraiva. Suas propriedades ainda estavam cobertas pela mata nativa.
Franz Ludwig começou a colonização onde está a Escola Municipal.
Emil Priesnitz começou a colonizar mais ao sul, uns 300 metros afastado do Ludwig. Entre o Ludwig e o Priesnitz moraram 2 outros imigrantes com suas famílias. Todos imigrantes se dedicavam ao trabalho agrícola.
Toda colônia ficava a leste do Rio Castelhano.
O Rio era na época mais limpo, mais fundo e tinha mais peixes que agora. 
O Castelhano não é mais tão fundo como era, está muito assoreado, e tem bem menos peixes.

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