segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Parto Natural Residencial - Na contramão do mercado - Por Thaynara Fernanda Priesnitz

Por Thaynara Fernanda Wayhs Priesnitz*

Tudo começou quando eu assisti ao Renascimento do Parto. Chorei muito, não podia acreditar que era tāo dificil parir no Brasil. Pensei na minha māe, que pariu aos 17 anos e aos 34 fez cesárea, contrariada. Chorei por ela, chorei pela minha irmā, chorei por todas as mulheres e crianças que tiveram seus nascimentos roubados. Foi aí que começou a minha busca por informação de qualidade e apoio. Estudando um pouco, descobri que o “parto normal”, na verdade não tem nada de normal, e que o que eu queria era um parto NATURAL. Eu tive o privilegio de poder trancar a faculdade e aproveitar ao máximo cada momento da gravidez, descobrindo e aprendendo a cada dia um pouco mais, e a honra de ter um companheiro tāo empenhado em aproveitá-la comigo, e em apoiar todas as decisões que eu tomasse. Tive também, a sorte de conhecer um anjo em forma de obstetra, que me apoiou desde o começo, me empoderando mais e mais a cada consulta, dizendo como meu corpo era perfeitamente capaz de trazer meu filho ao mundo, como os bebês sabem nascer, e o quanto é importante o respeito ao que é fisiológico. 
Foi o Dr Álvaro quem me aconselhou a procurar uma doula, quando eu nem sabia direito o que uma doula fazia (e assim eu conheci a Tatiana). Foi ele quem encorajou, a mim e ao meu marido, a participarmos juntos, de grupos de apoio ao parto. E assim fizemos. A cada encontro no Centro de Parto Ativo de Curitiba, eu e o Luiz conhecíamos pessoas maravilhosas, do bem, cheias de experiências para compartilhar, sem julgamentos, com muito amor envolvido. E saíamos, sempre, melhor informados e mais motivados a continuar nossa jornada rumo ao parto natural. Eu, corpo e mente, cada vez mais conscientes. Me conectava com o meu bebê, sentia sua vida pulsando dentro de mim e desfrutava da inigualável experiência de sentir meu corpo gerar outro ser a partir de uma única célula. Entrando em contato com a natureza em mim, agradecendo à vida pela oportunidade de realizar o maior sonho da minha vida. Eu e o Luiz nos entregando mais e mais um ao outro, às etapas do crescimento, às alterações de humor e forma, ao nosso karma, à luz da vida, à natureza.
O Enzo vivia dentro de mim há 24 semanas quando sentimos o chamado. Foi, literalmente, um chamado. Simultâneo. Intenso. Emocionante. Sentados no sofá de casa, com lágrimas nos olhos, a vida nos chamava a tomar as rédeas e a responsabilidade pelo nascimento do Enzo. Ele viria ao mundo em casa! Nāo fazia o menor sentido, para nenhum de nós, que não fosse assim. Nós queríamos respeitá-lo em todos os aspectos, e sobretudo, queríamos ser os protagonistas nesse que seria o nascimento conjunto de 3 novos seres. No próximo sábado, por coincidência ou destino, conhecemos o Fábio e a Carol, um casal de enfermeiros queridíssimos, de quem acabamos nos tornando amigos. Era mês de março, e apesar da agenda concorrida, tudo se encaminhou tāo perfeitamente, que conseguimos reservar com eles a data prevista do nascimento do Enzo, 12/07.
O Grupo Luar nos acolheu. Passaram-se as semanas, e com a trigésima quinta semana, começaram as consultas do pré natal domiciliar. O Dr. Álvaro acompanhando de seu consultório, torcendo por nós e trazendo a segurança de que tudo estava perfeitamente bem. Cada semana, uma visita agradável para checar a nossa vitalidade, até que se completassem 40 semanas, e partir daí seria uma visita a cada 2 dias. Eu, do alto de minha inexperiência, me antecipei e duvidei que chegaríamos a tal ponto. Mas nós chegamos. Eu vinha sentindo contrações de treinamento, aquelas que não são doloridas, e endurecem apenas uma parte da barriga, desde a vigésima semana, e a partir da trigésima sétima, elas apareciam cada vez mais frequentes, trazendo consigo tamanha ansiedade que comecei a sonhar com o parto quase todos os dias. Minha māe, em sua infinita generosidade, tirou férias para vir cuidar de mim e ver o neto nascer. Meu pai e minha irmãzinha também vieram, pois era julho, época de ferias escolares… Tudo certo, seria um acontecimento familiar, idealizado por nós todos como uma espécie de cura conjunta de traumas vividos no passado.
Contávamos os dias, todos ansiosos pela chegada do nosso pequeno pacotinho de amor. Na trigésima nona semana, o Fábio e a Carol vieram aqui pintar o Enzo na minha barriga, foi uma delícia, momento de total conexāo de todos com ele… Ele chutava e pulava dentro de mim enquanto a gente ia tocando na barriga e conversando com ele. O exame físico mostrava que estava tudo ótimo conosco. Foram três semanas maravilhosas e muito agradáveis de acolhimento da minha família, mas algo acontecia dentro de mim que não estava deixando o processo fluir. As contrações de treinamento desapareceram, ou eu acho que desapareceram, pois fui instruída a ignorá-las. 41 semanas e nada. O Enzo poderia nascer em casa, apenas até a próxima segunda, quando completaríamos 42 semanas. E mais uma vez, minha māe, com toda a sua infinita bondade, decidiu que era hora de nos deixar a sós, limpou e deixou toda a minha casa em ordem, e partiu para uma viagem de 560 km rumo à sua casa. Era quarta feira, 41 semanas e 2 dias. A essa altura, eu já estava em processo de aceitação de que não seria como nós planejamos. Chorava ao escrever meu plano de parto para entregar na maternidade. O Luiz, sempre muito calmo, acolhedor, me trazendo a esperança de que ainda poderia ser, faltavam 5 dias afinal! No dia anterior tivemos consulta com o Álvaro e ele disse para voltarmos na sexta às 10:00, com toda a empatia do mundo, nos explicou como seguiríamos a partir da próxima semana. Chamei ele de lindo naquele dia, depois dele me pedir para tentar manter a calma e relaxar, que o Enzo decidiria a hora de vir, fosse em casa ou na maternidade, seria quando ele decidisse. Que ele não ia induzir o parto, muito menos fazer uma cesárea. Saí de lá aliviada, percebi que até as contrações de treinamento surgiram novamente, sem dor, só uma parte da barriga endurecendo, normal… Nos despedimos de meus pais naquela quarta feira sabendo que era o certo, que precisávamos mesmo ficar sozinhos, afinal, eram 4 adultos, uma criança de 5 anos, um gato e um cāo convivendo em 82 metros quadrados de um apartamento… Enfim ficamos só nós 2, minha barriga e nossos bichos, e a rotina poderia se reestabelecer. Tivemos uma noite muito agradável, do jeito que costumávamos fazer: cozinhamos juntos, namoramos no sofá da sala assistindo a um besteirol americano, demos muita risada, saímos à 1 da manhā para comprar um Mc Flurry, andamos de carro pela cidade contemplando nossa “liberdade” de fazer o que quiséssemos na hora que bem entendêssemos, que logo acabaria. Conversamos sobre como talvez fosse isso que ele estivesse esperando: uma despedida da nossa antiga vida, só nós dois, relaxados e tranquilos.
No dia seguinte, acordamos com o sol na janela, a casa em silêncio, e eu me aconcheguei de forma desajeitada com meu barrigāo e meus 21 quilos extras nos braços dele e nós fizemos amor, depois tomamos um longo banho juntos, curtindo nossa intimidade. Às 11 horas, estávamos na sala de espera da clínica de imagem, uma ecografia só para ter certeza de que estava tudo bem mesmo. No caminho para lá, notei uma contração “meio que diferente” das outras. Durante o exame, o médico-ultrassonografista-vidente disse que o Enzo não estava com cara de quem queria nascer logo, que estava muito alto ainda… Vejam só, nunca consegui tirar uma foto de perfil de um bebê de 41 semanas, dizia o querido médico. De repente… ai, doutor, estou tendo uma contração de treinamento… e nós enxergamos nitidamente na tela a nossa frente, nosso pequeno anjo empurrando a cabecinha rumo à cavidade do meu osso pélvico. Quem é mesmo que não quer nascer?! Saindo de lá, rumo ao shopping, uma onda de excitação percorria minha coluna junto com a contração que agora havia mudado de forma.
Ela também era uma onda. Eu via, ouvia, sentia ela percorrer o meu corpo. Começando bem leve, chegando a um pico para abrandar novamente e desaparecer. Tudo bem, mantenha a calma, isso pode durar dias, disse minha consciência. Vida que segue, almocei um burrito mega apimentado, passeamos no shopping vibrando de contentamento com cada contração que aparecia em espaços de vinte minutos, meia hora. Minha doula e amiga Tati vinha fazendo drenagens semanalmente no meu corpitcho, e naquele dia, as 14 horas, como de costume, toda quinta feira, não seria diferente. Durante a sessão, umas 5 contrações. Demos muita risada do médico-ultrassonografista-vidente, e no final ela disse para eu mantê-la informada do progresso. Chegando em casa fui visitar minha vizinha e amiga Laura, quem me apresentou ao Dr Álvaro, no início da gestação. Eu estava feliz com os sinais de avanço da gestação… sorrindo e me entregando àquelas deliciosas contrações que vinham doloridas numa intensidade igualmente deliciosa. A Laura disse que o Enzo nascia ainda naquele dia, e que não entendia como eu poderia estar tāo tranquila. Eu respondi que não tinha como saber, pois poderia demorar dias até o trabalho de parto engrenar, entāo eu devia mesmo relaxar. Fiquei lá na casa dela, com as minhas contrações irregulares, doloridinhas, agora, de 10 em 10 minutos, até umas 17 horas. Cheguei em casa e deitei na cama com o Luiz, sorrindo feito bobos um para o outro.
O Fábio disse numa das consultas que era para tomar banho quando sentisse contrações diferentes, e que se diminuíssem de intensidade depois do banho, não era trabalho de parto. Entāo, tomamos outro banho. E elas intensificaram! Depois do banho, fomos no mercado comprar algo para comer. Lá no mercado, elas continuaram… agora um pouco mais doloridas do que antes. A gerente do mercado chegou passando a māo na minha barriga e dizendo nossa, que barriga linda, pra quando é o bebê? Eu, no meio de uma contração: Pra agora!! Rimos muito, compramos massa de pizza e outros ingredientes. Chegando em casa eu fui preparar a pizza. Sim, eu fiz pizza em trabalho de parto! Quando chegava uma contração, eu parava e estendia os braços sob a bancada de mármore, empinando o quadril para trás e rebolando, e quando ela acabava eu voltava para a pizza! Enquanto a pizza assava, sentei na minha bola de pilates e rebolei, cantando feliz, rindo do Luiz que gravava vídeos no celular para mostrar para o Enzo no futuro. Comi pizza rebolando na bola e as 20:00 decidimos ir para o quarto descansar. Acontece que deitada, a dor ficava mais intensa… e o resultado foi que eu não dormi nadinha! Mas fiquei na cama até as 23:00, quando não aguentei mais ficar na mesma posição, precisava caminhar, rebolar, dançar. Deixei o Luiz dormir, afinal eu precisaria muito da energia dele dali algumas horas. Coloquei Friends (seriado favorito) para assistir, e vibrava quando a cada 5 ou 6 minutos vinha uma nova contraçāo. Resolvi tomar outro banho, e quando saí do banho senti uma vontade enorme de fazer cocô. Oba, mais um sinal de que meu corpo é uma máquina perfeitamente desenhada para fazer exatamente isso! E entāo lá fui eu fazer mais cocô do que havia feito a gravidez inteira (eufemismo para: minha nossa, quanto cocô!). Aqui, devo fazer uma pausa para dizer a quem estiver lendo que os hormônios do parto fazem isso mesmo, entāo esteja preparadx para um avalanche de cocô bem molengo no trabalho de parto. Voltando… fiquei num vai-e-vem entre o banheiro e a sala, entrava no chuveiro, saía do chuveiro, voltava para a sala, dançava e rebolava, voltava para o sanitário, fazia mais cocô, assistia mais um pouco de Friends e assim foi até as 2:02 da manhā (sei disso pois estava anotando cada contração, que agora vinham em intervalos de 3 minutos!), quando sentada no vaso, perdi o tampão mucoso! E foi só entāo que eu acreditei que ele estava vindo mesmo! Gritei de alegria, chamando o Luiz aos berros! Ele chegou pensando que o Enzo tinha nascido, eu mostrei o papel higiênico cheio daquela linda gosma espumante transparente com um pouquinho de sangue e ele vibrou gritando também “saiu o tampão!! ele tá vindooooo!” Era hora de ligar para a Aline (a parteira de plantão do Grupo Luar) e para a Tati (a doula). Entrei e sai do chuveiro enquanto esperava as duas. A Aline chegou primeiro, e nessa hora eu já estava só de roupāo, com o tronco apoiado no sofá, coque no cabelo, suor na testa, vocalizando aos berros cada contraçāo e rebolando o quadril.
 Eu olhei para ela sorrindo e disse: Deu certo! Está acontecendo! Ele está chegando! Lembro dela dizer: e tem quem diz que mulher parindo é feio, olha como ela está linda! O Luiz tirando “selfies” com a esposa parindo e fazendo piada. Eu ria entre os gemidos e gritos… A Aline fez um toque e me pediu para descansar. Eram 3 horas da manhā, 3 centímetros de dilataçāo. Ainda tinha muito chão pela frente, e eu só dava risada! Eu não estava nem aí, estava em êxtase, mais feliz do que nunca, contemplando minha animalidade, minha fera interior… que ainda nem havia se mostrado de fato! A Tati chegou trazendo óleos essenciais, massagens, grāos de mostarda, afeto, palavras de incentivo e mais risadas. A Aline orientou a Tati e o Luiz a me incentivarem a descansar e foi embora, ela voltaria quando eu achasse necessário. Ficamos na sala, o Luiz fazendo um “stand up” de parto enquanto eu relaxava com as massagens da Tatiana madrugada a dentro. A dor já estava muito forte, e eu comecei a esquecer de tudo o que havia estudado, mas a Tati me lembrava de relaxar e me entregar às ondas, e assim ficava suportável passar por elas. O Luiz me trazendo um gole d’água, umas castanhas, um picolé, uma colher de mel, um travesseiro, por favor! Fomos para o quarto, e eu dormi de roncar entre uma contraçāo e outra, numa posição meio que de 4, amparada por uma pilha de travesseiros em baixo da barriga, pelas māos macias da Tati me massageando e pela māo firme do Luiz segurando a minha. A Tatiana lembrou da linha púrpura, um importante recurso que nos dá uma ideia da dilataçāo… A linha segue do ânus ao “cofrinho”, e a minha estava com 8 cm! Hora de chamar a Aline novamente. Já eram 6 da manha, e eu já estava na partolândia! A partir daqui, a memória está um pouco embaçada, efeito do “barato” da ocitocina, hormônio do amor que traz os bebês ao mundo. Eu estava embriagada por ela! Lembro-me de estar no chuveiro, e a Tati me pedir que horas eu achava que era. Eu disse três e meia. E ela: Bem vinda à partolândia! A dor era imensa, intensa, maior do que tudo, me abrindo, me rasgando, o corpo, a alma, o espírito, o ego… A alegria de saber que cada contração trazia meu pequeno para mim… inigualável. Fez total sentido a frase: A dor é forte porque é minha, eu sou forte! A Aline chegou e fez o segundo e último toque, que doeu muito mais do que o primeiro, pois as contrações não davam mais trégua, agora era uma a cada minuto, e durando mais de um minuto! Nessa hora, começava a fase introspectiva do trabalho de parto, e eu quis ficar sozinha com meus pensamentos turvos. Sentei mais uma vez no vaso, e ali a dor aliviou um pouco. Aqueles momentos são para mim, a parte mais enriquecedora do processo. Ali, não duvidei nem por um segundo da minha força e da minha capacidade, pois entrei em contato com o poder sagrado feminino dentro de mim, chamando às minhas ancestrais para me ajudarem a seguir em frente com a mesma bravura que elas seguiram. Minha tataravó, que pariu 15 filhos, foi a primeira que veio em minha mente. Eu repetia comigo mesma e com elas, eu tenho a força de vocês em mim, eu sei que sou capaz e eu sei que vou conseguir. Eu agradecia mais uma vez à vida, aos céus e à terra pela oportunidade de passar por isso e descobrir essa força. Eu chorava e gritava a cada contraçāo que me rasgava em mil pedaços, sabendo que não sairia dessa experiência sendo a mesma pessoa, e agradecendo mais ainda por isso. Eu falava com o meu filho e agradecia a ele por ter me escolhido para ser sua māe. Eu falava com a criança que eu fui e dizia para ela que estava tudo bem. Eu curava minhas feridas anteriores à medida que essas novas feridas do parto se abriam para me transformar. Eu perdi a noção de tudo, tempo, espaço, momento, fome, sede. Só tinha espaço para a dor. A dor me preenchia, e eu me transformava em māe. De repente, os “puxos”. Era hora de sair do vaso e ir para a piscina que estava montada no quarto do Enzo para recebê-lo. O Luiz entrou comigo, e a nossa viagem começou. Eu ia mudando de posiçāo dentro da água quente enquanto ele molhava minhas costas e cabeça com um potinho, segurando minha māo e me dizendo como eu estava sendo forte, como tudo estava sendo perfeito. Cada contração me obrigava a fazer uma força que eu nunca vi igual. Ela vinha junto com a onda de contração que abraçava meu bebê para empurrá-lo para a vida. Tudo ia bem, até mesmo no momento em que eu duvidei de mim (isso também acontece, se preparem). Quando eu disse que estava com medo, o Luiz me lembrou que essa é a hora em que o bebê “já vai chegar”. Ah, teve um cocozinho na banheira também (segundo a Carol, foi só uma bolinha).


Eu idealizei um parto de cócoras, o Enzo vindo direto para as minhas māos ao som de Shine on You Crazy Diamond. É obvio que não foi assim! Travei, literalmente, deitada de lado no colo do Luiz, agarrando as costas dele com as unhas enquanto ele segurava minha perna direita levantada. E foi assim que eu senti a cabecinha do Enzo atravessar meu corpo e aparecer entre minhas pernas. Ardia muito, era o círculo de fogo. Ele saía e voltava um pouquinho, e foi isso que garantiu meu períneo íntegro! Olhei para cima e vi o Luiz chorando muito, entāo eu soube que a cabecinha do Enzo estava toda para o lado de fora. Fiquei alucinada querendo tê-lo em meus braços, e foram mais 2 contrações até que ele saiu. 49 centímetros. Senti todos eles. Ele foi para as māos carinhosas da Aline, enquanto eu me lançava para a frente com a força de dez leoas e o pegava no colo, beijando, cheirando, lambendo minha cria, que nasceu dormindo, em paz, sem violência, respeitado e cercado pelo mais puro sentimento de amor de todos à sua volta. Senti uma paz imensa e não acreditava que tudo aquilo estava mesmo acontecendo, o Enzo soltou uns gritinhos de choro e adormeceu de novo no meu colo. O Luiz chorou. Eram 10 da manhā da sexta feira, 24 de julho. Hora da minha consulta com o Dr. Álvaro. A Carol mandou uma foto nossa para ele naquela hora, rimos muito e o Enzo começou a mamar. Nāo foi como planejamos, foi muito melhor. Foi exatamente como tinha que ser.


*Thaynara Fernanda Wayhs Priesnitz e mãe, estudante e militante contra a violência obstetrícia e a favor do parto humanizado. 

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